domingo, 20 de novembro de 2011

Esse termo foi introduzido por Karl Marx em seu texto "A Ideologia Alemã" onde aparece quase no final da seguinte forma:

"Como nos vemos aqui obrigados a limitar-nos aos pontos capitais, consideraremos apenas um exemplo verdadeiramente flagrante. que é o da destruição de uma velha civilização por um povo bárbaro e a formação conjunta de uma estrutura social a partir do zero (Roma e os Bárbaros, o feudalismo e a Gália, o Império do Oriente e os Turcos).
Para o povo bárbaro conquistador, a guerra é ainda, tal como atrás dissemos, um modo normal de relação tanto mais zelosamente praticado quanto mais imperiosa se torna a necessidade de novos meios de produção devido ao aumento da população e ao modo de produção tradicional, rudimentar e único possível, desse povo.
Em Itália, pelo contrário, assiste-se à concentração da propriedade fundiária realizada por herança, por compra e ainda por endividamento; e isto porque a extrema dissolução dos costumes e a escassez dos casamentos originavam a progressiva extinção das velhas famílias, acabando os seus bens por cair nas mãos de um pequeno número delas.
Alem disso, tal propriedade fundiária foi transformada em pastagens. transformação essa provocada, para além das causas econômicas habituais válidas ainda nos nossos dias, pela importação de cereais pilhados ou exigidos a título de tributo o a conseqüente falta de consumidores de trigo italiano que isso implicava.
Devido a estas circunstâncias, a população livre desapareceu totalmente e os próprios escravos ameaçavam abandonar a sua situação, tendo de ser constantemente substituídos.
A escravatura continuava a ser a base’ de toda a produção.
Os plebeus, colocados entre os homens livres e os escravos, nunca conseguiram ultrapassar a condição de Lumpenproleiariat
."




Em alguns de seus textos subsequentes Marx usou novamente o termo e enumerou quais segmentos da sociedade ele achava que eram "lumpen".


No 18 Brumário Karl Marx fornece a seguinte descrição:

"Sob o pretexto de criar uma sociedade de beneficência, organizou-se o lumpemproletariado de Paris em seções secretas, cada uma delas dirigida por um agente bonapartista, ficando um general bonapartista na chefia de todas elas.
Junto a roués [libertinos] arruinados, com duvidosos meios de vida e de duvidosa procedência, junto a descendentes degenerados e aventureiros da burguesia, vagabundos, licenciados de tropa, ex-presidiários, fugitivos da prisão, escroques, saltimbancos, delinquentes, batedores de carteira e pequenos ladrões, jogadores, alcaguetes, donos de bordéis, carregadores, escrevinhadores, tocadores de realejo, trapeiros, afiadores, caldeireiros, mendigos - em uma palavra, toda essa massa informe, difusa e errante que os franceses chamam la bohème: com esses elementos, tão afins a ele, formou Bonaparte a soleira da Sociedade 10 de dezembro.
......
Bonaparte, que precisamente por ser um boêmio, um príncipe lumpenproletário, levava vantagem sobre o burguês vil porque podia conduzir a luta por meios vis, viu agora, depois que a própria Assembléia o guiara, por sua própria mão, através do terreno escorregadiço dos banquetes militares, das revistas de tropas, da Sociedade de 10 de Dezembro e, finalmente, do Código Penal, que chegara o momento em que poderia passar de uma aparente defensiva à ofensiva.
.......
A seu lado alinhavam-se a aristocracia financeira, a burguesia industrial, a classe média [Mittelstand], a pequena burguesia, o exército, o lúmpen proletariado organizado em Guarda Móvel(7), os intelectuais de prestígio, o clero e a população rural.
......
Dinheiro como dádiva e dinheiro como empréstimo, era com perspectivas como essas que esperava atrair as massas. Donativos e empréstimos - resume-se nisso a ciência financeira do lúmpen proletariado, tanto de alto como de baixo nível. Essas eram as únicas alavancas que Bonaparte sabia movimentar. Nunca um pretendente especulou mais vulgarmente com a vulgaridade das massas.
....
O próprio exército já não é a flor da juventude camponesa; é a flor do pântano do lúmpen proletariado camponês.
....
A indústria e o comércio, e, portanto, os negócios da classe média, deverão prosperar em estilo de estufa sob o governo forte.
São feitas inúmeras concessões ferroviárias.
Mas o lúmpen proletariado bonapartista tem que enriquecer.
Os iniciados fazem tripotage(35) na Bolsa com as concessões ferroviárias."


No Manifesto Comunista Karl Marx se refere ao lumpemproletariado da seguinte forma:

"As classes médias -pequenos comerciantes, pequenos fabricantes, artesãos, camponeses - combatem a burguesia porque esta compromete sua existência como classes médias.
Não são, pois, revolucionárias, mas conservadoras; mais ainda, reacionárias, pois pretendem fazer girar para trás a roda da história.
Quando são revolucionárias, é em conseqüência de sua iminente passagem para o proletariado; não defendem então seus interesses atuais, mas seus interesses futuros; abandonam seu próprio ponto de vista pira adotar o do proletariado.
O lumpemproletariado, esse produto passivo da putrefação das camadas mais baixas da velha sociedade pode, às vezes, ser arrastado ao movimento por uma revolução proletária; todavia, suas condições de vida o predispõem mais a vender-se à reação para servir às suas manobras."





No O Capital Marx diz:

"Finalmente, o mais profundo sedimento da superpopulação relativa habita a esfera do pauperismo.
Abstraindo vagabundos, delinqüentes, prostitutas, em suma, o lumpemproletariado propriamente dito, essa camada social consiste em três categorias.
Primeiro
, os aptos para o trabalho.
Basta apenas observar superficialmente a estatística do pauperismo inglês e se constata que sua massa se expande a cada
crise e decresce a toda retomada dos negócios.
Segundo, órfãos e crianças indigentes.
Eles são candidatos ao exército industrial de reserva e, em tempos de grande prosperidade, como, por exemplo, em 1860, são rápida e maciçamente incorporados ao exército ativo de trabalhadores.
Terceiro, degradados, maltrapilhos, incapacitados para o trabalho.
São notadamente indivíduos que sucumbem devido a sua imobilidade, causada pela divisão do trabalho, aqueles que ultrapassam a idade normal de um trabalhador e finalmente as vítimas da indústria, cujo número cresce com a maquinaria perigosa, minas, fábricas químicas etc., isto é, aleijados, doentes, viúvas etc.
O pauperismo constitui o asilo para inválidos do exército ativo de trabalhadores e o peso morto do exército industrial de reserva.
Sua produção está incluída na produção da superpopulação relativa, sua necessidade na necessidade dela, e ambos constituem uma condição de existência da produção capitalista e do desenvolvimento da riqueza.
Ele pertence ao faux frais da produção
capitalista que, no entanto, o capital sabe transferir em grande parte de si mesmo para os ombros da classe trabalhadora e da pequena classe média."


No seu "Luta de classes na França" Marx diz:

"... dos apetites doentios e dissolutos em que a riqueza derivada do jogo naturalmente procura a sua satisfação, em que o prazer se torna crapuleux(5*), em que o dinheiro, a imundície e o sangue confluem.
No seu modo de fazer fortuna como nos seus prazeres a aristocracia financeira não é mais do que o renascimento do lumpenproletariado nos cumes da sociedade burguesa.
.....
O povo gritava: À bas les grands voleurs! À bas les assassins!(6*) quando no ano de 1847. nos palcos mais elevados da sociedade burguesa, se representava em público as mesmas cenas que conduzem regularmente o lumpemproletariado aos bordéis, aos asilos, aos manicómios, aos tribunais, às prisões e ao cadafalso.
....
Para esse fim o Governo provisório formou 24 batalhões de Guardas Móveis, cada um deles com mil homens, cujas idades iam dos 15 aos 20 anos.
Na sua maioria pertenciam ao lumpemproletariado, que em todas as grandes cidades constitui uma massa rigorosamente distinta do proletariado industrial,
....
Os bonapartistas tinham tão pouca confiança no efeito mágico da sua personalidade que enviaram por toda a parte como claque, despachada em massa por comboios e diligências, gente da Sociedade do 10 de Dezembro(12*), essa organização do lumpemproletariado de Paris.
Puseram discursos na boca da sua marionette, os quais proclamavam, segundo a recepção nas diferentes cidades, ora a resignação republicana ora a tenacidade perseverante como lema eleitoral da política presidencial."



Bakunin se expressou da seguinte forma sobre essa opinião de Marx e Engels a respeito destes segmentos da sociedade que eles chamavam de "lumpen":

"Por flor do proletariado, quero dizer, principalmente, essa grande massa, esses milhões de não-civilizados, deserdados, miseráveis e analfabetos que o Sr. Engels e o Sr. Marx pretendem submeter ao regime paternal de um governo muito forte9 sem dúvida, para sua própria salvação, como todos os governos não foram estabelecidos, é evidente, no próprio
interesse das massas.
Por flor do proletariado, refiro-me precisamente a essa carne de governo eterno, essa grande canalha popular 10, que, sendo mais ou menos virgem de toda civilização burguesa, traz em seu seio, em suas paixões, em seus instintos, em suas aspirações, em todas as necessidades e misérias de sua posição coletiva, todos os germes do socialismo do futuro, o que só ela é hoje bastante poderosa para inaugurar e lazer triunfar a Revolução social. "


"Nota 10 O Srs. Marx e Engels a designam ordinariamente por essa palavra, ao mesmo tempo desprezível e pitoresca, lumpemproletariado, o "proletariado esfarrapado", os gueux."




Conclusão

De posse do conhecimento das palavras de Karl Marx a respeito deste termo podemos fazer alguns comentários.

O termo "lumpemproletariado" é mais um dos muitos termos que Marx criou destinado e nomear pessoas de uma forma genérica dentro dos diversos segmentos da sociedade de sua época, a intenção dessa criação é ter uma palavra para ser usada em sua crítica genérica a sociedade capitalista onde essa suposta "classe" de pessoas existiria e atuaria.

Muitos na atualidade classificam os "lumpemproletrários" como sendo os "excluídos", mas, ao lermos o que Marx escreveu no "18 Brumário" somos levados a crer que não era bem isso que Marx pensava... pois neste texto Marx coloca os "lumpen" entre a aristocracia e a burguesia napoleônica, e entre aqueles que querem e tem dinheiro, e mais ainda, eram inimigos dos proletários franceses.
E inclusive Marx diz que o próprio Napoleão III era um "príncipe" lumpemproletário!

Nos textos de Marx podemos ver claramente que Marx em nenhum momento se diz amigo ou defende os "lumpemproletários"... pelo contrário, ele os tem como inimigos, os despreza os chamando de seres oriundos da putrefação da sociedade em suas camadas mais baixas e que se vendem a burguesia.
No "18 Brumário os acusa de terem "duvidosos meios de vida" e "duvidosa procedência", a de serem degenerados.

A opinião de Bakunin também é importante para uma conclusão, Bakunin considerava o que Marx e Engels chamavam de "lumpemproletários" de também serem revolucionários, no caso anarquistas, ao contrário de Marx e Engels que não os consideravam revolucionários.

A conclusão a que forçosamente chegamos é que a "classe" dos lumpemproletários" era mais uma "classe" que Marx condenava, tal como os "capitalistas", os "burgueses", os "pequenos-burgueses", os socialistas "utópicos", "feudais", "verdadeiros", "conservadores", "burgueses", e a todos eles Marx acrescentava o "reacionários".

Em vista disso podemos concluir que Marx não considerava os "lumpemproletários co9mo se fossem "excluídos" como muitos hoje em dia tentam fazer parecer, não, o termo alemão "lumpen" significa ralé esfarrapada e era assim que Marx os via, alem de os ter como inimigos da revolução.


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2 comentários:

  1. graças a marx os marginalizados sofrem preconceito até hoje. sendo que eles estiveram no front de várias revoluções importantes.

    CONSCIÊNCIA DE CLASSE LUMPEMPROLETÁRIA JÁ!

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    1. Vc ode ser um cara legal mas seu comentário não, é confuso.
      Vc está dizendo q "graças a Marx" os marginalizados sofrem?
      E antes de Marx eles não sofriam?
      Vc pode gritar por consciência de classe, Marx tb gritou, só q isso ñ existe, foi provado na Primeira Guerra Mundial q ñ existe, os proletários tem pátria e lutam juntos com a burguesia do país contra outros países.
      Lula era supostamente um "proletário", mas, se tornou presidente e rico, mais uma prova q "classe" não existe.

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